segunda-feira, agosto 4

Vinho de qualidade

Será difícil arranjar um único adjectivo que consiga descrever na plenitude o Rali Vinho Madeira de 2008. Foi uma das melhores “colheitas” de sempre, com competição da primeiras especial e a incerteza sobre o vencedor até ao último metro. Eram conhecidos os valores dos inscritos, tanto que era difícil apontar um favorito à vitória no início do rali... e no fim também.

A viatura recaiu sobre o francês Nicolas Vouilloz, mas também ficaria bem em Giandomenico Basso ou mesmo num surpreendente Alexandre Camacho.

A prova decidiu-se nos pormenores. É difícil apontar o “momento-chave” do rali, mas será fácil dizer as razões pelas quais os outros não venceram:

- Giandomenico Basso não venceu porque a sua equipa Fiat Abarth efectuou uma má avaliação do estado dos pisos na primeira passagem pela zona oeste na primeira etapa. Só nesta ronda perdeu mais de 30 segundos, que foram decisivos na contabilidade final. O forcing final apenas permitiu ultrapassar Alexandre Camacho no final e ficar a 5,4 segundos de Vouilloz.

- Alexandre Camacho foi a figura da prova. Aproveitando o conhecimento do terreno e uma viatura bem preparada, protagonizou uma agradável surpresa quando nos primeiros troços demonstrou ter capacidade de rivalizar com os principais concorrentes do IRC, ERC E CPR. Sendo madeirense conseguiu colocar o público delirando na estrada, sob a perspectiva de vencer em casa. Mas a experiência dos adversários veio ao de cima. Primeiro porque são concorrentes profissionais com estruturas profissionais, e depois porque conseguiram aguentar a pressão exercida. Basta ver as trajectórias nos últimos troços. Enquanto Vouilloz e Basso efectuavam trajectórias limpas, para o cronómetro, Alexandre Camacho tinha uma condução mais agressiva e exuberante. Embora não perdendo muito para os adversários, promovia uma maior desgaste nos pneus, que não único foi determinante na última especial do rali. Isto sem falar da extensão da última especial, e da dificuldade em manter os níveis de concentração em 21 quilómetros. Mas sem sombra de dúvida que foi a figura do rali, pena o segundo lugar ter escapado por apenas 2,6 segundos.

- Renato Travaglia foi o único a assumir a vontade de vencer na Madeira, sem rodeios. Mas também não tinha tarefa fácil, pois recuperava de uma valente gripe na semana do rali, e no segundo dia sofreu uma intoxicação alimentar que lhe deu problemas intestinais. Mas não influenciaram a prestação do concorrente italiano, pois conseguiu manter sempre na contenda pelo pódio. Foi na 18ª especial que um pequeno despiste o fez perder mais de 10 segundos, e abandonar definitivamente o “comboio” da frente. Este facto fê-lo baixar os braços e contentar-se com a quarta posição.

- Luca Rossetti chegou à Madeira na liderança do IRC com três vitórias esta temporada, uma das quais no Rali de Portugal. Especialista no asfalto, tinha que se haver com o desconhecimento do rali como principal handicap. O piloto italiano tentou acompanhar os mais rápidos, mas principalmente nas primeiras perdia preciosos segundos que acumulados impediram de chegar mais à frente. Esteve numa animada disputa com Loix, e conseguiu alcançar a 5ª posição no final do rali.

- O belga Freddy Loix tinha o mesmo problema de Rossetti, que se baseava no conhecimento do terreno, apesar de ter participado na edição de 2007. Mas não era o único problema, pois o belga não conseguia adaptar às sinuosas estradas madeirenses, chegando mesmo a afirmar que não gostava do traçado. Pois, ele é especialista em pisos rápidos como Ypres, que nada têm a ver com a Madeira. Foi dos maiores perdedores do rali, pois para além de não conseguir acompanhar os rivais, não conseguiu vencer a luta com Rossetti, e retirar pontos ao principal adversário de Vouilloz.

- O italiano Umberto Scandola chegava à Madeira como substituto de Anton Alen, sem ter disputado um rali de asfalto nos últimos 9 meses. A falta de competitividade foi evidente, mas teve a inteligência de ao perceber que não conseguia mais, levar a viatura até final testando alguns componentes para a Abarth e conquistando o público com excelentes atravessadelas.

- Provavelmente, o mais azarado foi Bruno Magalhães. Chegando com reais aspirações à vitória, demonstrou estar à altura do acontecimento, imprimindo um ritmo elevado e chegando com naturalidade à 1ª posição. Mas à semelhança das outras provas internacionais, o azar bateu-lhe à porta. Um furo no início da especial Cidade de Santana2 fê-lo perde mais de 3 minutos e acabar com quaisquer aspirações a um lugar entre os primeiros. Foi outra frustração para o concorrente, mas também para os adeptos que contavam fazer a festa em português. Este resultado compromete as aspirações do piloto da Peugeot Sport em participar noutras provas do IRC.

Finalmente, a razão pela qual Nicolas Vouilloz vence. Ele não errou, nem vacilou nos momentos certos. Entrou ao ataque na Super Especial, efectuou sempre registos entre os primeiros e no combinado geral teve o engenho de chegar ao Funchal na frente do rali. Foi totalmente merecido, principalmente porque quase passou despercebido, tal a ênfase dada ao Alexandre Camacho e ao ataque de Giandomenico Basso no 2º dia.

Para o ano a 50ª edição do rali promete ser memorável. Falam-se de nomes como Snijers, Tabaton e Aghini, mas de promessas....

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